quinta-feira, 23 de abril de 2015

Diet Mountain Dew

Lana del Rey
Born to Die (2012)

O barulho de copos e pratos não a incomodava, muito menos a falta de luz, as latas de molho de tomate caídas em seus pés e o calor de estarem em uma pequena despensa perto da cozinha. Só queria estar ali, no intenso prazer de estar fazendo algo que julgava errado. 


Há uma hora atrás estava ali, porém no salão de festas, supervisionando o buffet e conversando com os convidados. Estava a espera do noivo, afinal fora ele quem pediu que fosse ela a organizadora da festa da firma em que ele trabalhava. 
Estava em um assunto chato com um senhor de bochechas rosadas sobre a economia do país, por sorte sentiu uma calorosa mão em suas costas e finalmente o noivo estava ao seu lado.
- Cuidado Marcelo, a Débora não pensa duas vezes em discutir, essa aqui tem opinião forte! 
- E eu não percebi? - Ele saiu e deixou os noivos sozinhos. 
Ela usava um vestido preto com alguns toques brilhantes, curto que ia até os joelhos. Os cabelos ruivos estavam presos em um coque, ficara horas tentando prendê-los. Os saltos a deixava mais alta que o noivo, que usava terno e uma camisa azul com a gravata cinza. Ambos estavam perfeitos para o evento. 
- Ei Debs, você vai ficar aqui até muito tarde? O pessoal só vai esperar a palavra da diretoria e vão para aquele bar onde fomos outro dia...
- Eu encontro vocês lá Lu, vou voltar na cozinha e já já volto. Beijo. 
E saiu pelo salão, mas nesse momento cruzou com um rapaz alto, magro e com o cabelo raspado na lateral. Mesmo usando os trajes de garçom, distoava dos demais. Escutou uma senhora reclamando da atitude dele e o chamou para a cozinha. Com um olhar de insignificância e desprezo, ele a acompanhou. Ela com raiva da atitude sentia a nuca ficar quente. Parecia que os cabelos iriam pegar fogo. 
O bafo quente da cozinha percorreu-lhes os rostos assim que passaram pela porta. Os barulhos e as conversas abafaram os xingamentos que ela pronunciava. Ele inquieto apenas ria debochando o que a deixava mais furiosa. Minutos depois ele voltou para o salão e ela continuou na cozinha. 
Recebera uma mensagem do noivo pedindo que fosse ao salão, terminou de conversar com uma cozinheira e foi. Chegando perto do noivo e dos amigos percebeu que o garçom do cabelo raspado estava no grupo, rindo e conversando. Uma onda de ódio tomou conta de seu corpo, parecia que um vapor quente soprava em suas costas e a nuca mais uma vez quente, dessa vez realmente estava achando que o cabelo pegava fogo. 
- Debs onde vocês arrumaram esse garçom? Ele é muito engraça...
- Você já terminou de servir? 
- Calma garota, só parei para conversar com os caras.
- Meu Deus onde arrumam gente competente para trabalhar assim? 
- Debs, calma...
- Lu, tenho que ver com o pessoal do cerimonial quando os diretores vão falar para servirmos as massas. E você - virando-se para o garçom - acredite rapaz, esta será a última vez que trabalha para mim, volte para a cozinha. 
- Ok madame. 
Os homens riram. A nuca esquentou. O noivo tentou abraçá-la por trás mas ela desviou e foi em direção a cozinha. 
Passaram-se alguns minutos e estava saindo da cozinha indo fumar quando viu o tal garçom dentro da despensa mexendo nos alimentos. Ela entrou e pegou o pacote nas mãos dele e colocou no lugar. 
- Sério? Depois de tudo que você fez nessa noite, ainda vai tentar roubar da cozinha? 
- Olha madame eu estava colocando no lugar...
 - Ah sim, eu imagino...
- Olha aqui princesa que tem tudo em ordem, não é minha culpa se você tem tudo que quer e fica procurando motivos para fazer o inferno na vida de outras pessoas mas...
Dera um tapa no rosto do homem. Quando viu seus dedos estavam em suas bochechas. Ele virou-se e tentou passar por ela para sair, mas a tensão dos corpos os atraíram. Fechou a porta com o pé e se beijaram. Era uma força carnal. 
Foram alguns minutos, sentira o celular vibrando, provavelmente o noivo, até que se afastaram. Ele sorrindo e ela sentindo o rosto corar. 
- Misógino do inferno...
- Vamos lá garota, eu sei que você quer mais, vamos pro meu chevette... 
Saiu do lugar sem saber onde iria, só precisava ver o noivo, queria já contar antes que qualquer boato chegasse em seus ouvidos.  Ele estava perto da mesa servindo de algum drink, ele assustou com a sua chegada. 
- Debs o que que aconteceu? Você tá com uma cara horrível, seu cabelo, seu brinco caiu? 
O brinco, esquecera de olhar em qualquer espelho antes de sair da cozinha e tentando se ajeitar e pensando o que dizer para o noivo, uma mão passa pelo su campo de visão, segurando um brinco com uma pedra vinho. O noivo encarou o garçom e este estava sorrindo da mesma forma de antes. Os olhos voltaram para Débora e se encheram de lágrimas, deixou o copo na mesa e saiu. 

- Acho que o seu vestido está um pouco desarrumado, boneca. 

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