quarta-feira, 29 de julho de 2015

Y

Iamamiwhoami 
Bounty (2013)

Por um longo tempo eu achei que eu seria uma pessoa extraordinária, principalmente depois que chegasse aos quarenta anos. Pois bem, eis eu aqui esperando a hora dos meus filhos voltarem do inglês, enquanto minha esposa termina de consertar a torneira da pia. Eu acho que chegamos a um ponto em que milhões de coisas para consertar na casa tornaram-se comuns, “apagar fogueiras” é o que ela gosta de dizer.

Significa que você não termina um projeto direito, e no final das contas, se percebe fechando as pontas curtas dos outros que você nunca finalizou. A pia, por exemplo, sempre pingou, mas deixei pra lá, primeira vez que percebi foi em um jantar com a minha sogra. Evitei o estresse. Mesmo que naquele dia eu tenha ganhado cinco fios de cabelo branco a cada vez que fui chamado de imprestável.

Você deve me achar com uma cara de tarrancudo, que fica em um escritório o dia inteiro, e no final do dia desconta em um programa barato ou no futebol das quartas-feiras. Nem um e muito menos o outro. Talvez eu seja um pouco tarrancudo, minha pequena diz que vou ficar velho muito cedo se eu não começar a sorrir logo.

Eu tenho uma pequena sensação de que fui um dos jovens da geração y, ou x, ou z, não lembro qual termo deram para minha geração. Sei que tínhamos liberdade para escolhas. Eu fiz as minhas. Mas acho que no final se eu tivesse escolhido um outro caminho, talvez se não tivesse aceitado aquela promoção e tentasse o meu próprio negócio...Não penso muito, sabe, apenas em alguns momentos eu imagino o que teria sido de minha vida.

Por volta de 2018, com a nova instituição do Estado Único, que abriu todas as fronteiras e diminuiu o que chamávamos de mundo, as coisas mudaram muito. Talvez você não se lembre, mas antes, era possível identificar as culturas, brigávamos inclusive, eu discutia em fóruns online sobre apropriação cultural, desrespeito a culturas e muitos termos. Hoje, não se vê nada disso.

Confesso que as viagens ficaram mais fáceis para alguns. Lúcia minha empregada, por exemplo, viajou apenas uma vez na vida, antes não se imaginava nada disso. Meus filhos e eu viajamos quatro vezes ao ano. Exterior, lógico. Não existem mais países com os nomes, apenas o Estado Único. 

Constituído pelas antigas nações.  Existem os antigos continentes, que compartilham seus produtos e ninguém ganha ou perde.  Pelo menos é o que insistem em dizer na NeTV. 


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